A importância de ensinar meditação às crianças
Professores e alunos estão sujeitos a elevados níveis de stress nos dias que correm
devido a vários fatores. Da minha experiência e das partilhas que me fazem, da parte
dos docentes, alguns desses fatores são:
Programas extensos e desadequados às idades dos alunos;
Pouco interesse dos alunos nas aprendizagens;
Gestão de comportamentos/indisciplina;
Número elevado de alunos por turma;
Integração de alunos com Necessidades Educativas Especiais na dinâmica da
turma;
Adaptação dos alunos de Português Língua Não Materna;
Anos diferentes na mesma turma…
Da parte dos alunos os fatores causadores de stress prendem-se essencialmente
com:
Carga letiva muito extensa (de manhã e de tarde) equiparada ao horário
laboral de um adulto;
Ansiedade causada por testes, apresentações orais, excesso de trabalhos de
casa;
Falta de tempo para si;
Desmotivação pelas práticas educativas praticadas nas escolas e pelos
programas com conteúdos pouco estimulantes e desadequados aos dias de
hoje;
Hiperestimulação causada pelo constante uso de dispositivos eletrónicos;
Hiperatividade e Défice de atenção;
Solicitações externas constantes…
Muito do que enumerei até agora é difícil de mudar e não é de um dia para o
outro que vamos alterar todo o sistema educativo. Mas é possível! E uma das formas de
o fazer é começar esta mudança em nós. Mudando mentalidades, pensando fora da
caixa, e abraçando novas abordagens que nos permitam aceder aos nossos recursos
internos. Uma dessas abordagens é, sem dúvida, a meditação.
A meditação é uma prática que nos possibilita encontrar a sabedoria para
respondermos em vez de reagirmos, com a intenção de nutrir o que de melhor há em
nós, e nos nossos alunos. É uma prática para habilmente sermos capazes de gerir todas
estas dificuldades que referi anteriormente e por que todos passamos, professores e
alunos. Como diz Jon Kabat-Zinn, o “pai” do Mindfulness no ocidente: “Não podemos
parar as ondas, mas podemos aprender a surfar.”
Mindfulness (Atenção Plena) é um estado de atenção particular, focado no
momento presente e isento de julgamentos. Esta abordagem permite tomar consciência
dos pensamentos, sensações físicas e emoções, sem reagir de uma forma automática
abrindo assim espaço à escolha da resposta mais adequada a cada situação.
A meditação é, portanto, a energia que cultivamos através da consciência
amável do momento presente. Envolve a prática de voltar a um espaço compassivo e
pacífico que todos temos dentro de nós, mas a que poucos acedem devido ao ritmo
alucinante do nosso dia a dia.
Mas porquê introduzir a meditação nas escolas?
Essencialmente devido a três fatores:
- A neurociência que está por trás do Mindfulness comprova que a
capacidade de autorregulação de pensamentos, humor, comportamento
e foco aumenta;
- A investigação confirma que as crianças que fazem programas de
Mindfulness:
Apresentam melhorias significativas na componente académica –
melhores resultados, aumento da concentração, maior
predisposição para aprender – e na componente relacional –
diminuição da impulsividade, autorregulação do comportamento
reconhecimento e gestão de emoções de forma mais eficiente;
Aumentam as competências comportamentais e sociais;
Reduzem os comportamentos agressivos;
Aumentam a empatia e compaixão pelos outros colegas;
Têm menos stress e, portanto, baixa produção de cortisol.
- Aborda os problemas da saúde mental infantil mais comuns entre os 4 e
os 17 anos que aparecem em contexto escolar, como a hiperatividade, o
défice de atenção, ansiedade, depressão, distúrbios de humor e
alimentares, entre outros. A prática de mindfulness não só melhora os
sintomas destas desordens como atua ao nível do desenvolvimento
saudável, neuroplasticidade e neurofisiologia do cérebro, a longo termo.
De tal forma que as crianças deixam de precisar de medicação ou
reduzem-na substancialmente. O mindfulness é também efetivo na
prevenção da depressão, na cura e a evitar que regresse.
O mindfulness está a ser utilizado em muitas escolas porque há várias pesquisas
encorajadoras que esta prática regular ajuda a gerir emoções e comportamentos de
uma forma mais efetiva o que traz benefícios para todos os intervenientes no contexto
escolar melhorando o ambiente de aprendizagem para todas as crianças. Em
conformidade com os estudos e pesquisas realizadas nesta área e sendo uma das
missões do Externato Champagnat formar crianças capazes de gerir de forma
construtiva os seus sentimentos, atuando de forma livre, criativa e solidária faz-lhe todo
o sentido que a meditação faça parte da vida dos seus alunos.
Assim, estabeleceu uma parceria com o Projeto o Pequeno Buda. Esta parceria
assenta não só nos benefícios anteriormente descritos, mas também na intenção de se
criar um momento em que a meditação fizesse parte da rotina diária dos nossos alunos,
respeitando e valorizando sempre as características individuais e a essência de cada
criança.
Portanto, todos os dias, durante pelo menos 5 minutos, as crianças são
convidadas a meditar através de um conjunto de práticas simples e eficazes que visam
treinar a atenção plena, através de exercícios de respiração, consciência corporal,
observação, jogos, histórias e meditações guiadas. A este momento chamamos de Quiet
Time, porque vamos parar, fazer uma pausa e cultivar dentro e fora de nós um espaço
de tranquilidade e silêncio. O conceito é criar-se um espaço seguro, onde cada criança
se sinta à vontade para expressar emoções e pensamentos, onde possa alcançar mais
tranquilidade, calma e consciência da ligação mente-corpo.
A primeira sessão de meditação é feita por um dos elementos da equipa do
Pequeno Buda que explica às crianças o que se vai passar, dá alguns exercícios e
responde às questões que as crianças possam ter. É muito motivante assistir como os
alunos recebem este momento cheios de entusiasmo e muita curiosidade. Durante a
sessão, que tem aproximadamente a duração de meia hora, é nossa preocupação
procurar o sentimento das crianças, perceber o que gostam, o que as preocupa e o que
as motiva.
Nesta primeira sessão é logo visível a diferença no estado emocional dos alunos
antes e depois de fazerem o Quiet Time. No final, quase todos partilham que se sentem
bem, que estão mais descontraídos, relaxados e calmos. É bom sentir-se e confirmar-se
os efeitos desta pausa no estado emocional dos estudantes, desde o primeiro dia.
A partir desse dia, e após terem realizado uma formação inicial com a equipa do
Pequeno Buda, os exercícios são feitos pelos professores. Faz-nos todo o sentido que
sejam os professores a dar continuidade ao nosso trabalho, pois são eles que melhor
conhecem os alunos, as suas necessidades e a dinâmica da turma. Posteriormente há
uma fase de acompanhamento, onde um elemento da equipa do Pequeno Buda volta a
visitar a escola e recebe o feedback de professores e alunos escutando quais as suas
dificuldades, conquistas e sugerindo novos exercícios.
Com este projeto de levar a meditação para a sala de aula o Externato
Champagnat conjuntamente com o Pequeno Buda pretende proporcionar ferramentas
que não estão nos livros, mas que são essenciais para que no presente e no futuro, os
seus alunos, sejam crianças e adultos felizes, providas não só de conhecimentos
académicos, mas também dotadas de competências emocionais onde o respeito, a
resiliência, a tolerância, a compaixão, a empatia, a criatividade e o conhecimento
profundo de si e do mundo imperem.
Acreditamos que se queremos um mundo melhor devemos começar nas escolas!
Joana Magno
Professora do 1.o Ciclo, Pós-graduada em Mediação de Conflitos em contexto escolar,
Facilitadora de Meditação para Crianças – O Pequeno Buda
(https://www.opequenobuda.com/), Facilitadora de Desenvolvimento Consciente para
Crianças e Jovens, Facilitadora de Parentalidade Consciente da AdPC e Fundadora do projeto
Pais Conscientes, Crianças Felizes (http://www.parentalidadeconsciente.com/)